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A TERCEIRA PONTA DO CANUDO

A controvérsia sobre os canudos opõe duas pontas diametralmente opostas.

Numa delas, temos o cidadão. Ele vê imagens da poluição em oceanos que circulam por todos os meios e se comove com a morte de animais marinhos provocada pela ingestão de plásticos. Na mesma ponta estão os ambientalistas honestos e os políticos oportunistas.

Cada um tem suas motivações. O cidadão age por boa fé, o ambientalista é movido pela determinação em melhorar o mundo, o político quer se promover. Dessa disparidade de intenções emergem soluções radicais.
Na outra ponta temos os produtores dos canudos. De uma hora para outra, passaram de empresários a bandidos. Como no conto “A terceira margem do rio”, de Guimarães Rosa, a história do canudo tem uma terceira ponta: é aquilo que não se conhece. Com a diferença de que, na vida real, o insólito da ficção cede espaço para o racional.

É preciso, pois, conhecer os canudos. Os de plástico são recicláveis, assim como copos e garrafas do mesmo material. Os de papel também, desde que sejam separados após o consumo, coletados e levados até cooperativas de reciclagem.

A decisão de se usar um ou outro material envolve uma análise de sustentabilidade do ponto de vista ambiental, econômico e social. Precisamos ter coragem para enfrentar a situação e propor soluções que possam ser implementadas a curto, médio e longo prazo. O plástico é muito eficiente, na medida que consegue preservar produtos, remédios e alimentos.
Permite uma adequada relação entre a quantidade do material e o produto embalado. Por exemplo, 1,5 grama de embalagem plástica preserva uma espiga de milho por 15 dias.

Em alguns casos, a eficiência não pode ser medida só com números. Uma seringa de plástico, por exemplo, pode salvar vidas. Já o papel, além de ser biodegradável, tem a seu favor a origem de fonte renovável. Mas cada material tem suas aplicações e atributos. Cada um é a melhor alternativa para uma determinada situação. Seja qual for o material, a solução é a reciclagem. A economia circular desponta como um modelo ideal, ao poupar energia e evitar o esgotamento dos recursos do planeta. Daí a importância de se conscientizar o consumidor sobre sua responsabilidade na separação dos resíduos após o consumo.

É fundamental também o estímulo à produção de embalagens com apenas um material. Um copo de papel revestido de polietileno, por exemplo, é mais difícil de ser reciclado. Cabe à indústria identificar na embalagem o material usado e orientar o descarte correto. Apoiar o “greenwashing”, a maquiagem verde, apenas deseduca. A administração pública precisa fazer sua parte na promoção da coleta seletiva. Há muitos caminhos: a reciclagem mecânica, mais simples; a reciclagem química; e a incineração, como se faz, por exemplo, no Japão.

A Política Nacional de Resíduos Sólidos, de 2010, só será colocada em prática se todos os envolvidos estiverem comprometidos.

Assunta Napolitano Camilo, engenheira mecânica com pós-graduação em administração industrial, é diretora do Instituto de Embalagens.