Ao menos no mercado de polietileno, a resina termoplástica mais utilizada no mundo, há sinais de retomada no consumo brasileiro e os volumes começam a se estabilizar em níveis pré-crise. A avaliação é do presidente global de Embalagens e Plásticos de Especialidade da Dow Chemical, Diego Donoso. A indicação de uma das principais fornecedoras do polímero, que no mercado local concorre com a líder Braskem, é positiva sobretudo se considerado o encolhimento do consumo aparente nos últimos dois anos: quase 8% em 2015 e mais 3% em 2016.
O ponto mais crítico da crise para os fabricantes de resinas em geral foi registrado em 2015, quando a demanda de polietileno, polipropileno e PVC caiu abaixo de 5 milhões de toneladas. Desde então, a retração foi mais lenta, até alcançar o ponto de inflexão entre o segundo e o terceiro trimestres do ano passado. “Se olharmos trimestre a trimestre, já começou a se estabilizar em níveis pré-2015”, afirmou. Diante disso, é possível que a demanda ao longo deste ano se assemelhe à verificada em 2014.
O polietileno da companhia vendido no país é produzido em fábricas instaladas na Argentina, Estados Unidos e Europa. Embora neste momento não tenha um plano concreto de instalar capacidade fabril no país, a Dow vê condições para um novo projeto na América do Sul – na Argentina, a companhia pode produzir cerca de 700 mil toneladas por ano de polietilenos. “Estamos fazendo vários estudos e a região está no páreo. Mas o foco, neste momento, são os projetos Sadara e do Golfo [americano]”, ponderou Donoso.
A Sadara Chemical Company, joint venture de US$ 20 bilhões com a Saudi Aramco no Oriente Médio, começou a produzir polietileno no fim de 2015 – um reator, de polietileno de baixa densidade, ainda mão entrou em operação – e engloba 26 linhas de produção, com capacidade para 3 milhões de toneladas por ano. Segundo Donoso, o projeto representou a abertura de novas regiões para a companhia americana. O mercado indiano, exemplificou o executivo, cresce mais rapidamente que o chinês.
No Golfo do Texas, o projeto de expansão de mais de US$ 6 bilhões está prestes a começar a produzir etileno, abastecido pelo competitivo gás de xisto explorado no México. Mais companhias se apressaram em anunciar projetos baseados em gás naquela região e a oferta adicional de polietileno foi estimada, a partir dos anúncios, em 10 milhões de toneladas.
Esse volume levou analistas e a indústria petroquímica a traçarem perspectivas pessimistas para os spreads (diferença de preço em relação à matéria-prima) do polietileno. Até o momento, porém, o volume anunciado não se confirmou e os spreads não foram pressionados de forma mais abrupta, observou Donoso. “Permanece o equilíbrio de mercado e, por isso, queremos ser os primeiros a partir com o projeto do Golfo”, disse.
Sobre a estratégia global de negócios, o executivo afirmou que a Dow abandonou o conceito de “supermercado de plásticos”, ajustou o foco para resinas de performance aplicadas a mercados específicos, como embalagens de alimentos e adesivos, e voltou a investir em expansão, mas sem preocupação de ser a maior em sua área.
Como resultado, foram 17 trimestres de crescimento do lucro operacional, 13 trimestres de evolução das vendas em volume e sucessivos recorde de produção em suas fábricas. O negócio de plásticos e embalagens é hoje responsável por 40% do resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) consolidado da Dow, de US$ 8 bilhões em 2016.
Além de reduzir o portfólio de resinas, a empresa definiu iniciativa para ampliar a produtividade das unidades fabris, que passaram a trabalhar com metas de produção diária e não mais mensais, e reduzir a rotatividade entre engenheiros com mais tempo de casa e, consequentemente, com mais experiência e conhecimento das operações. “Estávamos perdendo conhecimento com a menor retenção dos engenheiros.”
Segundo o executivo, esses esforços resultaram em maior estabilidade das fábricas e redução das paradas não programadas – o pior momento foi registrado em 2014, mas nos dois anos seguintes as fábricas, mais eficientes, registaram recorde de produção. “Agora há uma competição saudável entre as fábricas, nas diferentes regiões”, disse.
Mas ainda há outro importante desafio, e de curto prazo, no horizonte da companhia americana: realizar a fusão com a DuPont, que recentemente a levou a vender a operação de copolímero e ionômero de ácido acrílico para a coreana SK Global Chemical. Com a iniciativa, afirmou Donoso, as companhias se anteciparam a um potencial questionamento do órgão antitruste da União Europeia. No restante do negócio de plásticos e embalagens, Dow e DuPont são complementares, acrescentou.
Fonte: Valor Econômico