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Rótulo faz diferença?

A ideia é que, ao tornar o maço pouco atraente, menos gente tenha vontade de fumar. Será?

A partir de 20 de maio de 2017, todas as embalagens de cigarro no Reino Unido deverão seguir a política de neutralidade (plain packaging), o que significa que não poderão usar marcas e deverão adotar cores discretas e trazer grandes imagens de advertência sobre os riscos do fumo. A ideia é que, ao tornar o maço pouco atraente, menos gente tenha vontade de fumar. Será? A iniciativa é baseada na experiência bem-sucedida de alguns outros países.

A Austrália, primeiro país a adotar a simplificação dos maços, já em 2012, registrou uma queda de 15,1% para 12,8% de fumantes na população adulta. O número de pessoas que passaram a ligar para linhas de apoio para quem quer abandonar o fumo aumentou 80% no mesmo período, o que revelaria uma mudança cultural em relação ao cigarro. Os dados são do jornal inglês Daily Mail.

Para os especialistas, a ausência de marcas famosas no visual das embalagens poderia tornar os consumidores menos fiéis e, depois, fazer com que eles perdessem interesse pelo hábito de fumar. Além dos traços de personalidade e fatores biológicos, os gatilhos para fumar teriam relação com o poder simbólico das marcas. Esses resultados foram publicados no periódico Addictive Behaviors Reports.

Mas, claro, essas conclusões foram contestadas e muita gente acredita que as taxas de fumantes já vinham caindo mesmo antes dos novos rótulos, graças a medidas como campanhas de prevenção, alertas sobre os riscos nas embalagens, preço mais elevado dos maços, proibição de fumar em ambientes fechados, entre outras.

O Reino Unido decidiu seguir a política das novas embalagens para o cigarro, por iniciativa do Public Health England (PHE), agência executiva do Departamento de Saúde, que tem autonomia para propor medidas que visam a melhorar a saúde pública no país. A agência, fundada em 2013, é independente e reúne especialistas de mais de 70 organizações distintas. Muitas das suas propostas são polêmicas e causam reações em vários outros setores.

Uma delas, de dezembro do ano passado, é a de expandir a política de plain packaging para outros produtos considerados potencialmente nocivos para a saúde, como o álcool. A ideia seria banir rótulos, marcas, cores fortes, garrafas atraentes, anúncios de bebidas dos bares, além de trazer avisos sobre os riscos, entre outras medidas, como uma tentativa de reduzir o número de pessoas que consomem álcool.

O chocolate (e até mesmo o açúcar) poderiam ser os próximos focos das embalagens menos atraentes, na tentativa de conter a epidemia de obesidade que ganha espaço no mundo.

Não é preciso dizer que a proposta levou a reações negativas. Muita gente considera que as medidas são excessivamente invasivas e superprotetoras, fazendo com que o Estado tente regulamentar a autonomia das pessoas. Será que exagerar nesses controles não traria mais prejuízos do que benefícios para a saúde da população? Para quem critica essas ideias, parece haver uma espécie de “lobby da saúde”, que tenta agora definir o que as pessoas devem ou não fazer com sua vida.

Para os defensores, essa é uma medida complementar, que poderia ajudar na melhora da saúde da população. No caso do álcool, outras iniciativas, como campanhas de esclarecimento, investir na cultura do consumo moderado e não do exagero, proibição das bebidas para menores, ideias como o “motorista da vez” (que trabalha a questão do beber e não dirigir), aumento do preço dos produtos, em teoria, poderiam reduzir riscos.

Um estudo divulgado também no final do ano passado, da Universidade de Liverpool, corrobora a proposta do PHE, sugerindo que rótulos com advertências sobre os riscos do consumo excessivo do álcool deveriam ser colocados na frente das garrafas do país. Segundo os pesquisadores, as embalagens mais neutras poderiam reduzir o número de pessoas que querem beber.

Profissionais das áreas de design, de propaganda e de manufatura de rótulos alegam que em um mundo globalizado, as marcas têm que ser protegidas, como forma de diferenciação dos produtos e do direito das pessoas de escolherem o que querem ou não consumir. E você? O que acharia se as embalagens de alimentos e as garrafas fossem todas iguais? Será que o mundo teria a mesma graça?

Fonte: Estadão