Após um 2016 decepcionante, com queda de volume de vendas, da geração de caixa e das margens, além de recuo das ações – ao mesmo tempo em que o Ibovespa, principal índice da bolsa de valores, teve forte elevação -, analistas avaliam se já é hora de voltar a comprar ações da Ambev.
O Valor reuniu os relatórios mais recentes de 13 bancos que acompanham a empresa, e das oito casas que reavaliaram a companhia neste mês de janeiro, cinco recomendam compra, duas optam pela manutenção e uma sugere a venda das ações.
Na ponta positiva, Ágora, Bradesco, Citi, Goldman Sachs e JP Morgan veem como atrativo o preço atual dos papéis, que operam em nível abaixo da média de anos recentes. Além disso, esperam melhora gradual no mercado interno à frente, com a colheita de resultados da estratégia de embalagens retornáveis de 300 ml.
Santander e Itaú BBA, que recomendam manter as ações em carteira, acreditam que o pior já passou, mas ainda veem desafios no futuro ou aguardam por um melhor ponto de entrada nas ações.
Na contramão, o HSBC recomenda reduzir a exposição ao papel, citando problemas de execução, equívocos de marketing e ausência de inovação pela empresa.
O placar geral, que considera também relatórios mais antigos, de outubro a dezembro de 2016, é mais apertado. Seis bancos recomendando compra, seis sugerem manutenção e um, venda. A média dos preços-alvo em reais é de R$ 20 por ação, num retorno de 15,6%.
As ações da Ambev acumulam alta de 5,9% em 2017. Mas no fechamento de ontem, a R$ 17,30, ainda estavam 13,7% abaixo do pico histórico, de R$ 20,05, em 17 de agosto do ano passado. Em 2016, as ações tiveram queda de 8,1% no ano, ante uma alta de 39% do índice Ibovespa.
Isolado na sugestão de venda para as ações, dentre as casas de análise consultadas pelo Valor, o HSBC viu com decepção a performance da companhia durante 2016. “Vencer na crise é o que a Ambev fez no passado e o que companhias saudáveis fazem para crescer melhor na alta”, escreve o analista Carlos Laboy.
O analista enumera 15 falhas de execução da empresa, como o fracasso em competir com destilados baratos, a “comoditização” das novas embalagens retornáveis de 300 ml e ausência de inovação para lidar com a recessão.
“Preferimos ações que se beneficiariam de uma melhora macro após solidificar operações e vantagens competitivas durante o período de retração econômica”, conclui o analista do HSBC.
Apesar do 2016 muito aquém das expectativas, diversos analistas veem no patamar atual de preço da ação uma porta de entrada, diante da projeção de melhores resultados neste ano.
Considerando uma análise baseada em múltiplos (preço da ação em relação ao crescimento estimado do lucro), o Bradesco avalia que o papel é negociado ao nível mais baixo desde 2009.
“Vemos a ação retornando 20% aos acionistas nos próximos três anos, através de 15% de crescimento no lucro por ação, mais um retorno com o pagamento de dividendos (dividend yield) de 5%”, escreve o analista Gabriel Lima, em relatório de 19 de janeiro.
Em 2016, a Ambev pagou R$ 10 bilhões em proventos, contra R$ 12,1 bilhões em dividendos, juros sobre capital próprio e recompra de ações em 2015. Este ano, já foram declarados R$ 1,1 bilhão em dividendos.
Ágora e JP Morgan também veem a ação em patamar interessante, frente à media histórica, ao avaliar usando um múltiplo preço-lucro. “Há desafios e um provável fraco quarto trimestre à frente, mas vemos o preço atual como atrativo”, avalia Pedro Leduc, do J.P. Morgan, que acredita ser o momento para se posicionar para uma possível recuperação.
Embora espere um quarto trimestre novamente de queda de receita e margens, Leduc projeta retomada do lucro da Ambev em 2017, graças à reaceleração de receitas no Brasil, melhora de custos e despesas financeiras em queda, com a redução da taxa Selic.
No ano passado, culminando no terceiro trimestre, a companhia enfrentou um colapso de margens, devido à alta de custos provocada por efeito cambial. Também perdeu participação de mercado, por conta do repasse de preços, e enfrentou um verão ameno, que reduziu a sede dos consumidores por cerveja.
Apesar de prever uma inflexão positiva nos resultados deste ano, o Itaú BBA não vê os múltiplos da companhia como atrativos, com preço-lucro ainda acima de 21 vezes. “Acreditamos que o segundo semestre de 2017 pode ser melhor, com deflação de custos no segmento de cerveja melhorando margens e estabilizando volumes”, diz o analista Antonio Barreto.
“Também vemos crescimento de duplo dígito para o lucro por ação de 2017 a 2019, o que pode ser atrativo para detentores do papel no longo prazo, apesar dos múltiplos não atrativos de 2017”, opina Barreto, que recomenda a manutenção dos papéis.
Fonte: Valor Econômico