O mercado de chás prontos, categoria que vinha crescendo nos últimos anos, não resistiu à recessão e encolheu no ano passado. Neste ano, fabricantes tradicionais ampliam suas linhas, apostando que o brasileiro vai voltar a beber chá pronto. A líder do setor, a Coca-Cola acredita que o chá de saquinho, mais barato, vai ter expansão mais acelerada.
As vendas de chá pronto caíram 5,8%, para 126,9 milhões de litros, em 2016, segundo a Euromonitor International. A receita de vendas subiu 7,2%, para R$ 842,3 milhões, devido a aumentos de preços.
“Os consumidores afetados pela recessão foram obrigados a priorizar produtos considerados essenciais e o chá gelado não é considerado item essencial. Também houve substituição dos chás prontos pelo chá em saquinho ou sucos em pó, que têm preço mais baixo”, diz Angelica Salado, analista de bebidas e tabaco da Euromonitor. O preço médio do chá pronto aumentou 10% em 2016, para R$ 5,40 por litro, enquanto o chá em saquinho sai a R$ 0,50 o litro.
A analista observou que a crise nos Estados do Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, que são os maiores consumidores de chás do país, também afetou o desempenho da categoria. Outro fator que contribuiu para o encolhimento do setor, segundo ela, foi a saída da Nestlé da área de chás prontos.
Em março, a Nestlé e a Coca-Cola anunciaram globalmente o fim da joint venture Beverage Partners Worldwide (BPW), que representa a Nestea no Canadá e na Europa. No Brasil, a Nestlé trabalha atualmente apenas com o Nesta em cápsulas para máquinas da marca Nescafé Dolce Gusto. Procurada, a Nestlé informou que o porta-voz responsável pela área não estava disponível para entrevista.
A Nestlé era a quarta colocada no mercado de chás prontos em 2016, com vendas de 8,8 milhões de litros e 6,9% de participação. O mercado é liderado pela Coca-Cola, com a marca Leão. A Coca-Cola tem 52,3% do mercado – vendeu 66,3 milhões de litros de chás prontos em 2016. A segunda marca é a Feel Good, da Wow Indústria e Comércio, com 19,6% do mercado. Em seguida está a Lipton, da Unilever, com 9,7% A marca DoBem, da Ambev, é a quinta no mercado de chás prontos, com 2,2%.
Embora a categoria de chás represente apenas 0,4% do mercado de bebidas não alcoólicas, de acordo com a Abir (Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e de Bebidas não Alcoólicas), a expectativa das indústrias é conquistar uma fatia dos consumidores que buscam substituir o refrigerante por outras bebidas com menos açúcares e sódio. No ano passado, as vendas de refrigerantes caíram 6% em volume, para 14 bilhões de litros. A queda no ano chegou a 890 milhões de litros.
“Qualquer queda no consumo de refrigerantes gera um impacto grande em outras categorias de não alcoólicos. Isso já aconteceu com chás, água de coco. Em 2016 o impacto foi maior em águas engarrafadas”, observou Alexandre Jobim, presidente da Abir.
Investimentos da indústria
Companhias tradicionais no mercado de chá como Coca-Cola, Wow e Unilever estão ampliando neste ano a oferta de itens, com o objetivo de estimular a volta do consumo de chás prontos.
A Coca-Cola Brasil, que oferece 100 tipos de chás Leão em saquinho e 30 tipos de chás prontos para beber, lançou no mercado em 2016 linhas de chá verde, chá verde com abacaxi e hortelã e chá verde com limão prontos para beber. Em 2017, o foco da companhia é a linha de sachês, diz Renato Fukuhara, diretor de marketing para novas categorias da Coca-Cola Brasil.
“A Leão vende seis vezes mais chá de saquinho do que pronto para beber. O preço por litro varia entre R$ 0,50 e R$ 1,70. É a opção mais acessível de bebida e a empresa acredita que essa categoria terá um crescimento mais acelerado neste ano”, afirmou Fukuhara. Entre os lançamentos previstos na área de sachês estão chás com três sabores – amora, mirtilo e baunilha; mate, hibisco e cereja; tangerina e canela; chá preto, capim limão e maçã.
Outra aposta da Coca-Cola é na área de café. A empresa lançou o café Leão no fim de 2016, no Rio de Janeiro. Neste semestre, amplia as vendas para São Paulo e Curitiba e, até o fim do ano, venderá café em todo o país. A empresa não divulga dados de vendas. De acordo com a Euromonitor, a Coca-Cola manteve a participação de mercado estável na área de chás prontos para beber.
A Wow Nutrition, dona da marca Feel Good, ganhou 3 pontos percentuais de participação no ano passado, chegando a 19,6%. Ricardo de Oliveira Machado, vice-presidente de operações da Wow Nutrition, disse que o desempenho foi heterogêneo no País, com queda em vendas nos Estados deficitários, como Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, e crescimento em outras regiões. “Para 2017 a previsão é crescer acima de 20%. Houve evolução nas vendas a partir de novembro de 2016. O pior da crise passou, a perspectiva agora é de retomada”, afirmou o executivo. Machado prevê colocar no mercado pelo menos duas linhas de chá verde com frutas exóticas.
A Unilever, dona da marca Lipton Ice Tea, informou sem citar números, que teve desempenho acima da média do mercado em 2016. Rodolfo Carvalho Lopes, gerente de marketing da Lipton Ice Tea Brasil, disse que concentrou o foco no público jovem, interessado no consumo de bebidas mais saudáveis. A Unilever reformulou as embalagens da marca Lipton e lançou uma garrafa de 500 mililitros para consumo individual. Lopes disse que a empresa terá novas linhas de chás no primeiro semestre deste ano e que espera um “cenário de oportunidades ainda mais intensas para crescimento”.
A Ambev, quinta colocada no mercado com a marca Do Bem, ampliou sua linha de produtos no começo deste ano, com linhas de chá verde adoçados com estévia.
A saída da Nestlé da área de chás prontos e a perspectiva de melhora do mercado no longo prazo estimulou a entrada de novos concorrentes. A rede Rei do Mate, por exemplo, vai investir neste ano R$ 2 milhões para avançar no segmento de chá envasado. Antônio Carlos Nasrauí, diretor comercial e de marketing do Rei do Mate, disse que a meta é ampliar as vendas no varejo em 50% neste ano. Em 2016, as vendas no varejo da marca aumentaram 38%, segundo Nasrauí.
A venda no varejo do Rei do Mate começou em 2015, com uma distribuição no Rio de Janeiro e focada no chá em copinho. Hoje a companhia está com 30 produtos diferentes, em versões que vão do copo de 300 mililitros à garrafa de 1,5 litro. “Estamos agora em fase de expansão da distribuição, levando a marca para São Paulo, Santa Catarina e Minas Gerais”, afirmou Nasrauí. A meta da companhia é concentrar a distribuição no atacado, em redes regionais de supermercados, padarias e lanchonetes.
Outra empresa que está se aventurando no mercado de chás é a Luminus Life, que vende sucos. Daniel Feferbaum, presidente da Luminus Life, optou por desenvolver chás com propriedades funcionais. A companhia colocou no mercado em 2015 linhas de chás de hibisco e chá verde orgânicos e com teor de açúcar reduzido. A empresa começou recentemente a distribuir suas linhas para redes do Grupo Pão de Açúcar (GPA), Carrefour, St. Marche e Hortifruti. Feferbaun disse que espera ampliar suas vendas em 35% neste ano com a distribuição ampliada da marca.
A Famiglia Zanlorenzi, dona das marcas de sucos Campo Largo, Casa da Uva e Simmm!, informou que vai competir no mercado de chás a partir do segundo semestre.
Fonte: New Trade