O material substitui o plástico, que não se degrada no solo. A ideia surgiu como forma de aproveitar o excedente de papel usado na escola.
A ideia surgiu durante uma atividade em princípio pouco educativa da escola: uma guerra de bolinhas de papel. A turma do aluno Nycholas Turela Pereira estava entretida com a guerra de bolinhas num dos intervados entre as aulas da Escola Estadual Técnica Agricola Desidério Finamor, em Lagoa Vermelha, no Rio Grande do Sul. Em algum momento, um deles teve a ideia de usar papel molhado, que se desmanchava ao atingir o oponente. A estratégia balística deu origem a um insight ecológico para os alunos do 2º ano do ensino médio.
“Jogando o papel molhado, percebemos que aquele material se desmanchava e degradava rápido”, conta Nycholas. “Ele podia ser usado para resolver um problema no plantio de mudas.” Na verdade, a escola tinha dois problemas não relacionados. O primeiro era como dar um fim ecologicamente saudável a todo o papel usado e jogado fora. O segundo era como substituir as sacolas plásticas usadas para embalar as mudas plantadas na horta da escola. Como o plástico não é biodegradável, o material das embalagens permanecia na terra. A solução pensada pelos estudante foi simples: aproveitar o papel excedente e com ele fazer uma embalagem para as mudas. Como o papel é biodegradável, eliminariam um possível poluente no solo.
Orientado pela professora Simone Elenice Castelan, o grupo de Nycholas, com os colegas Leonardo Oliveira, Mateus Camargo, Anderson Riva e Matheus Bernardi, foi para o laboratório e desenvolveu um copinho feito com papel reciclado. O copo tem o tamanho certo para a brotação de mudas de plantas. No copo, as mudas podem ser cultivadas até ficarem prontas para o plantio direto no solo. Aí basta cavar um buraco na terra e plantar com o copo de papel e tudo. O copo de papel se desmancha em cerca de cinco dias. Não deixa nenhum resíduo. “O plástico também atrapalhava o crescimento da raiz da planta na terra”, diz Nycholas. “Já o papel se rompe facilmente para o desenvolvimento das raízes. E a celulose do papel ainda vira nutriente para a muda.”
Os alunos testaram a técnica com tomateiros, tulipas, alfaces e roseiras. As mudas ficaram cerca de 18 dias se desenvolvendo nos copinhos de papel antes do plantio no solo. Nas experiências, as mudas ficaram no laboratório, em uma área seca de cimento. Um dos limites para o uso da técnica é o local onde ficam as mudas. Se for úmido, o papel desmancha. Se tiver muito solo, pode rachar. Mas os copinhos de papel tiram de cena os plásticos que acabam enchendo o solo nas áreas de plantio.
O trabalho foi um dos premiados pelo Projeto Criativos da Escola, do Instituto Alana, em 2016. Segundo a professora Simone, a técnica dos copinhos ainda está em fase artesanal. “Hoje faz mais sentido para pequenas comunidades ou hortas comunitárias”, afirma. Mas ela acredita que os copinhos podem ser adaptados para produção industrial e usados em larga escala na agricultura. Agora, os alunos transferiram o projeto para uma nova turma da escola. O novo grupo está planejando patentear a ideia. “A gente espera que a técnica seja usada em larga escala. A gente quer ver isso na mão de todo mundo”, diz Nycholas.
Para Simone, a primeira vitória já foi ver os alunos pensando em inovações com fundo ecológico numa escola de técnica agrícola. “Se você dá liberdade para eles pensarem livremente, vem muita ideia. A gente precisa incentivar os alunos e explorar esse potencial”, diz.
Fonte: Época – Globo