O plástico é onipresente no planeta e o tema torna-se emergente nos debates sobre Meio Ambiente. O material que facilita a vida, se torna um desafio quando é descartado em lixões e na natureza. Mas essa história pode ser diferente a partir da prática da economia circular. O Brasil produz por ano 13,8 milhões de toneladas de resíduos plásticos, 64 quilos por pessoa, de acordo com o Panorama dos Resíduos Sólidos de 2022 da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), o que representa 23,2% do total de resíduos sólidos produzidos no País em 2022. Segundo a Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), apenas 23,4% dos resíduos plásticos foram reciclados em 2021, índice pouco maior que no ano anterior, quando foram reciclados 23,1%.
Ainda assim, com menos de um quarto do plástico reciclado, os resultados de faturamento e empregos gerados foram expressivos, o que comprova a força da reciclagem associada à economia circular. De acordo com a Abiplast, a reciclagem de plástico faturou R$ 4 bilhões e empregou 14,7 mil pessoas em 1,3 mil empresas em 2021. Se todo o resíduo plástico fosse reciclado, o setor poderia faturar cerca de R$ 12 bilhões e empregar 58,8 mil pessoas.
O estudo também mostra que a construção civil é o segmento econômico que mais gera resíduos plásticos, com 25,4% do total, seguido da indústria de alimentos, 21,9%, artigos de comércio em atacado e varejo, 7,8%, automóveis e autopeças, 6,2%, e bebidas, 6%. Quase todos os produtos feitos de plástico usam como matéria-prima o petróleo, um recurso não renovável, portanto, finito.
O coordenador pedagógico do Movimento Circular, mestre em Ecologia, doutor em Educação e Sustentabilidade e pós-doutor pelo Programa Cidades Globais, Edson Grandisoli, aponta que há uma grande variedade de tipos de plástico e cada fabricante cria os seus, para usos diversos. Isso torna complexo o processo de reciclagem, já que cada plástico tem componentes diferentes que não deveriam ser misturados, uma vez que dificultam ou impedem a reciclagem ou reaproveitamento.
Longe do lixo
Dessa forma, alerta Grandisoli, a maior parte dos resíduos plásticos acaba virando lixo, na terra, na água e até no ar. É importante compreender que há ao menos quatro maneiras de os plásticos serem reaproveitados: reuso, remanufatura, reciclagem mecânica e reciclagem avançada. Reusar é continuar usando a embalagem ou objeto para outras finalidades, não apenas em casa, mas também nas empresas e indústrias, como as garrafas retornáveis.
A remanufatura é devolver o objeto quebrado ou obsoleto para a fábrica, que o conserta e atualiza para que seja novamente utilizado. A reciclagem mecânica hoje é bastante limitada. Muitos plásticos atuais não podem ser usados de novo. Por isso, cada vez mais os plásticos precisam ser criados com materiais que podem ser reciclados, preservando as características originais, para que novos produtos sejam criados.
De acordo com o coordenador do Movimento Circular, uma novidade da Economia Circular será a possibilidade de desmanchar os plásticos, separando suas moléculas, os chamados polímeros, para depois combiná-las de novo, formando um novo tipo de plástico, o que é chamado de reciclagem avançada. Especialistas já falam em criar um repertório de moléculas que poderia ser adotado pelas empresas, a partir das quais seria possível criar qualquer tipo de plástico.
Futuro promissor
Grandisoli comenta que há várias alternativas de reaproveitamento do plástico que precisam entrar cada vez mais na pauta de empresas e das pessoas para um futuro promissor. Ele cita que os sistemas de retorno de resíduos devem se constituir como a principal fonte de material para quem produz objetos duráveis, limitando ao mínimo a extração de recursos finitos da natureza e geração de resíduos
Outra tendência são os produtos reutilizáveis, como um telefone móvel que pode ser atualizado apenas trocando as peças. Dentro desse conceito estão também os produtos em camadas. Já existem modelos de tênis, conta o coordenador do Movimento Circular, fabricados com materiais separados em camadas, que podem ser trocadas quando estiverem gastas.
Há ainda a proposta de substituir produtos por serviços, lembra Grandisoli. No lugar de vender lâmpadas, a empresa vende serviços de iluminação, fica responsável pela manutenção e pelo reaproveitamento dos materiais. Ele cita ainda embalagens feitas de biomassa, que podem virar compostagem depois de descartadas. “A separação dos materiais após o uso já é uma fonte de oportunidades e de inclusão para as cooperativas e catadores, gerando emprego e renda. No futuro mais circular, isso poderá evoluir muito, com o uso de novas tecnologias”, afirma.
Aprender com a natureza
O coordenador do Movimento Circular comenta que todas essas alternativas podem contribuir para que a economia circular se torne cada vez mais realidade. Ele explica que é possível aprender com a natureza. “Um material promissor em desenvolvimento é uma cola quimicamente inspirada no muco da lesma, que tem uma adesão fortíssima, mas se decompõem em água e nutrientes. Com o sistema todo pensado para evitar contaminações, tudo seria projetado levando-se em conta o que acontece depois do uso, sem que haja materiais tóxicos”, alega.
Outras possibilidades de economia circular que já existem, conforme Grandisoli, é a criação de bancos de materiais, nos quais as pessoas poderão obter objetos para reutilizar ou vender, e a “internet física”, uma infraestrutura para logística de circulação e retorno de materiais, com protocolo padronizado, envolvendo meios de transporte e contêineres que permitem o transporte automatizado de cargas com a facilidade com que hoje são enviados arquivos na internet original. “Avançarmos na economia circular é uma das principais maneiras de garantirmos que o dia do meio ambiente possa ser realmente celebrado por todos”, afirma o coordenador do Movimento Circular.
Fonte: Betini Comunicação